Matrix - Neo, destino e repetição




No final do século passado, um filme mudou totalmente a área dos efeitos especiais. Inspirado no livro Neuromancer de Willian Gibson, Matrix foi o grande nome do cinema em 1999, é sobre seu protagonista e seu paralelo com a Psicologia que tratará essa resenha.

Importante dizer que se possível, assistam os filmes para ter melhor compreensão.

Matrix conta a história de Thomas Anderson, um jovem funcionário de uma empresa de TI  que que durante a noite assume a identidade de Neo, um pirata cibernético que cria e vende softwares proibidos. Em uma noite, Neo é levado a conhecer Trinity, uma mulher que trabalhava para um dos homens mais procurados do mundo, Morfeu.É o encontro com esse homem que muda para sempre a vida de Neo e, consequentemente, de todos os habitantes do mundo.


Morfeu oferece a Neo duas escolhas, viver no mundo que ele sempre viveu, como se nunca tivesse o encontrado ou buscar a verdade que está por trás da sensação de  Neo de que tudo é falso, de que tudo é uma ilusão e descobrir, assim, o que é  Matrix! Neo aceita a pilula vermelha, fazendo a segunda escolha, e acorda finalmente no mundo real. Logo após isso, Morfeu finalmente explica a verdade.


Há muito tempo, os seres humanos entraram em conflito com as máquinas e como medida desesperada utilizaram um meio de tampar a luz do Sol (desenho animatrix), para que as máquinas parassem de funcionar. Porém, elas se adaptaram e venceram a guerra, passando a usar a energia dos corpos humanos para se manterem. Porém, para fazerem isso, criaram uma espécie de mundo virtual que simulava o nosso mundo, um  mundo  falso onde todos os seres humanos viveriam enquanto são usados como pilhas (expressão de Morfeu), essa é a Matrix.


Morfeu explica que Neo seria o escolhido, aquele que libertaria os homens da escravidão das máquinas, aquele que salvaria a humanidade.  Neo ganha poderes imensos e passa a ser a esperança de todos. Porém, no segundo filme, Neo encontra-se com o Arquiteto, a mente por trás da Matrix, e , para seu espanto, descobre a verdade. Neo era um  "meio"programa das máquinas que tinha como objetivo reiniciar a Matrix e Zion (a cidade dos homens) quando necessário. Ou seja, Neo era como todos os outros personagens, ele também fazia parte do sistema de controle. Descobrimos que ele é a 5° encarnação do escolhido. E a cada encarnação, ele realizava a mesma escolha, "resetando" a Matrix e reconstruindo Zion ( a cidade dos humanos). Porém Neo fez uma escolha diferente....


Neo e sua escolha  - Quebrando o ciclo


O Arquiteto oferece a Neo a escolha de ir para Zion e reconstruí-la ou salvar Trinity, a mulher que ele amava. Nesse ponto, percebe-se porque Neo era o mais humano de todos os escolhidos. Neo salva trinity rechaçando seu destino, saindo de um ciclo de repetição que nunca teria fim. Isso traz grandes consequências tanto para  o mundo dos homens quanto para Matrix, sendo isso visto no terceiro filme (assistam a trilogia).


A vida de Neo simboliza a vida de muitas pessoas que encontramos, principalmente na clinica. Pessoas que muitas vezes veem suas escolhas como destino, sendo que as vezes são manipuladas por forças que nem se dão conta que existem, assim como os "escolhidos" que o tempo todo eram  manipulados pela Matrix.



No caso do paciente, muitos deles são controlados por forças inconscientes, a parte da nossa mente descoberta por Freud e que, segundo a Psicanalise clássica, está diretamente relacionada as nossas atitudes e ações. É muito comum encontrar pessoas que entram num ciclo onde sempre fazem as mesmas escolhas, seguem sempre caminhos parecidos, mesmo sofrendo muito e sem perceber ou se dar conta disso. Para Freud em "recordar, repetir e elaborar" (1914), a repetição está ligada ao inconsciente e só seria quebrada quando o paciente se desse conta de que está repetindo e conseguisse perceber os porquês a partir da reflexão.


Neo passa por esse processo(insght) duas vezes. A primeira ao escolher sair da Matrix, Neo percebeu que havia forças que o controlavam e ao sair se tornou livre. Porém, ao se encontrar com o Arquiteto, descobriu que mesmo sua liberdade também fazia parte de sua escravidão, não tinha como fugir de Matrix. Assim como Neo, dentro da análise descortinamos nosso inconsciente e as motivações por parte das nossas atitudes, porém, assim como a luta contra Matrix, é uma batalha sem fim. Cabendo ao paciente, ao sujeito, trabalhar para que consiga viver da melhor forma possível dentro de suas próprias escolhas, assim como Neo conseguiu uma trégua na guerra ao final do terceiro filme, mudando seu destino e o de todos, dentro do que lhe era possível.




É provável que seja impossível acabar com a Matrix, mas pode-se tentar trazer o maior número de pessoas para fora, da mesma forma, não é possível esgotar todo o conteúdo do nosso inconsciente, mas pode-se trazer o máximo possível de nós mesmos para a luz. Cabendo ao analista permitir ao paciente a chance de escolha, assim como foi Morfeu com Neo.


Renan Souza de Oliveira CRP 06/151946
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Referências -
FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar. Obras completas, 1914, 12: 145-157.

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