Ilha do medo - quando a loucura é melhor que a realidade



O filme 


O filme a ilha do medo conta a história do policial Teddy Daniels e seu parceiro Chuck, que são enviados para the shutter Island (uma espécie de ilha para criminosos e pacientes psiquiátricos) para investigar o desaparecimento da paciente Rachel Solando, uma mulher que havia matado seus três filhos. Durante a investigação somos confrontados com as ilusões e memórias de Teddy. Vemos o tempo todo ele tendo ilusões com uma mulher loira, com crianças mortas e tendo lembranças dos tempos de que foi à guerra.



Durante o desenrolar da trama , entramos na mente do detetive, enquanto inúmeras reviravoltas acontecem.   Podemos citar as cenas  do encontro com a desaparecida  Rachel Solando que diz que o seu marido “Teddy” está morto e Também o encontro com o prisioneiro George Noice  na ala c, até chegar no surpreendente e angustiante final onde todas as ilusões se encadeiam.


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No grande clímax do filme, o delegado vai até o farol resgatar seu parceiro Chuck que havia desaparecido. Porém, ele só encontra seu psiquiatra que lhe conta a assombrosa verdade.  Teddy era Andrew Laddies, ele era o paciente 67 e que todo tempo  ele não queria aceitar a realidade de que sua mulher, Dolores Channel, a verdadeira Rachel Solando, havia matado seus três filhos e que ao descobrir isso, ele a matou. 

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Descobrimos que Chuck, na verdade era o psiquiatria  Lester Sheehan, responsável por Andrew, e que  tudo que aconteceu era um teste dos psiquiatras que quiseram entrar no delírio parar tirar Andrew de lá. Assim  que ele recobra a consciência, os psiquiatras explicam que foi uma última tentativa e que caso falhassem, Andrew iria sofrer uma lobotomia. Por fim, Andrew  percebe que a realidade é tão cruel, que lhe é preferível viver com a loucura. Voltando aos mesmos delírios e alucinações, escolhendo, assim, a lobotomia (simbolicamente, sua própria morte).


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Andrew e a loucura/ Psicose - 


já aviso que aqui entra minha análise que não é literal, por isso, peço licença poética


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Dentro dos estudos relacionados a ela, existe três visões que se destacam: A da Psiquiatria, a da Psicanálise e da filosofia¹. Nesse caso, partiremos da Psicanalise clássica que acredita que o delírio também pode ser uma forma de reconstrução e ordenação do mundo.




Segundo Birman (1993), o momento psicótico (da loucura) é aquele no qual existe uma ruptura radical do sujeito com o mundo e com os outros, e o delírio seria a mediação que o individuo constrói para restaurar a linguagem e as relações que foram rompidas, tentando uma interpretação para seu próprio sofrimento. O delírio, nesse ponto de vista, seria   estruturante para o sujeito.   Em um  discurso Freudiano, ele seria uma tentativa de cura. Pode-se ver isso, durante todo o filme, que trata da tentativa desesperada de Andrew não assumir a culpa por aquilo que fez ou permitiu. No filme, cada ilusão, cada lembrança, cada delírio tinha um significado intricado com a própria história do protagonista. 


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Andrew foi o grande vilão de sua história, ele não percebeu o que acontecia com sua mulher e no desespero se rendeu a dor e a matou, até no delírio e nas alucinações ele sabia disso. Tanto que criou uma identidade nova que lutaria contra um grande rival, que nada mais era que a parte de si que foi projetada para o mundo, pois era doloroso demais assimilá-la. Andrew durante todo filme lutou contra si mesmo.


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Essa luta entre realidade e delírio, entre ser mocinho e vilão é bastante simbolizada no conflito entre ele e George noicy na Ala C. do hospital, em que o interno solta a frase" Você não pode matar Laddies e sair da ilha ao mesmo tempo"(sic). Ou seja, ele não poderia matar quem era de verdade e se recuperar e sair da a ilha. Ao final, como já foi citado, os psiquiatras fazem que o ex-delegado recupere a sanidade, porém isso dura por pouco tempo, já que a loucura, o mundo que criou para si, assim como diz o teórico citado, o estruturava. Sem os delírios, seu ego sucumbe, incapaz de lidar com tamanha dor. Para Andrew é mais seguro viver na ilusão de ser um herói, do que ser o monstro de sua própria história. Sendo isso resumido em sua própria frase:


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Mais do que isso. Prefiro terminar esse texto com uma frase de um dos meus professores ditas em uma aula e que deve ter permeado a cabeça dos Psiquiatras dentro do filme:

"Se tiramos o delírio do paciente, o que damos em troca?"


Psicólogo Renan Souza de Oliveira CRP 06/151946


Insta: @psirenansouza


Facebook - Resenha Psi - Renan Souza


Referências 

1 - DE CAMPOS SILVA, Laura Belluzzo. Doenca Mental Psicose Loucura. Casa do Psicólogo, 2001.

BIRMAN, Joel. Um futuro para a psicanálise? Sobre a psicanálise no século XXI. Rev. bras. psicanál, v. 27, n. 4, p. 705-38, 1993.







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