Os irmãos Elric: o luto e a perda na infância.

 



Full metal Alchemist é considerado, por muitos, um dos maiores mangá/anime de todos os tempos. A história dos irmãos Elric em busca de seus corpos perdidos, conquistou pessoas de todas as idades, e é sobre esses personagens tão icônicos de que se trata esse texto.

 


A história de Edward Elric e seu irmão Alfonse Elric é marcada pela perda de seus pais ainda na infância. Primeiro, Hohenheim da Luz, pai dos garotos, os abandona por motivos desconhecidos. E poucos anos depois, Trisha, a mãe que cuidava dos dois, falece. Tomados pela dor, eles começam a estudar alquimia com a esperança de ressuscitar a mãe, mesmo tendo que cometer o maior crime que um alquimista poderia realizar: “a transmutação humana”.

 

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 Infelizmente, ao fazer o ritual, eles não apenas não conseguem ressuscitar Trisha, como pagam um preço muito alto. Edward perde o braço direito e as pernas, enquanto Alfonse perde seu corpo, tendo sua alma presa em uma armadura. A partir desse evento tão trágico, os irmãos resolvem viajar o mundo para encontrar a pedra filosofal e, assim, recuperarem aquilo que perderam.

 

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Um questionamento que fica na atitude dos irmãos é: Por que arriscar tudo pra trazer alguém que ama de volta? Por que a dor é tão grande? Ai entra o principal motor dos acontecimentos do anime e dos irmãos Elric, o luto, no caso deles, na infância.

 

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O luto é um processo natural da vida, Freud (1917) acreditava que era um processo em que aquele que ficou se desliga pouco a pouco daquele que se foi, até que se possa se permitir viver e se dedicar a outras coisas novamente, lidando melhor com a dor da perda. Na infância, esse processo de reconstrução adquire características ainda mais fortes e peculiares, principalmente pelo fato das crianças ainda estarem em processo de desenvolvimento físico e emocional (LEANDRO E FREITAS, 2015).

Para alguns autores, a reação da criança diante da morte, depende muito de fatores externos como a relação com a pessoa que se foi, a forma como a perda ocorreu, o tipo de morte, entre outros. Não é estranho que quando a criança perde um dos pais ela se sinta desprotegida achando que a morte também vai buscá-la (LEANDRO E FREITAS, 2015).

 

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Muitas vezes, por exemplo, até os cinco anos de idade, pode-se acreditar que a morte é reversível e que a pessoa pode voltar. Assim como o adulto, a criança também passa por um período de negação da perda, que Freud (1917) descreve que acaba pelo choque com a realidade de que a pessoa é incapaz de ressuscitar. No caso dos irmãos Elric pode-se dizer que que não conseguiram se desvincular da pessoa amada e a alquimia ajudou a piorar o processo, dando a ilusão de que poderiam negar a dor da morte. Dor ainda mais intensa para as crianças que se veem desprotegidas diante de um mundo gigantesco e ameaçador.

 

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Como já citado, as consequências da transmutação humana foram desastrosas para os irmãos, que acabaram ao longo da história encontrando pessoas com histórias parecidas, marcadas pela perda de pessoas amadas e pela tentativa de trazê-las de volta, e que tiveram que lidar com a dura verdade: A realidade da morte de alguém amado não pode ser negada, mas é possível sobreviver à dor e enxergar novas perspectivas para a vida. Algo que os irmãos Elric e tantos outros no anime foram obrigados a aprenderem ao longo de suas jornadas.


Psicólogo Renan Souza

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Referências usadas

FREUD, Sigmund. Luto e melancolia: 1917. In: Obras psicológicas de Sigmund Freud, v. 2: Escritos sobre a psicologia do inconsciente: 1915-1920. 1987. p. 99-122.

LEANDRO, J. C.; DE FREITAS, P. M. L. Luto infantil: A vivência diante da perda de um dos pais. REVISTA UNINGÁ, v. 46, n. 1, 2015.


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