Rei do show - 1° parte - quando tudo não é o suficiente





O post dessa semana é sobre o filme musical rei do show, filme inspirado em PT Barnum, conhecido por ser o fundador do circo. Nesse filme podemos ver sua ascenção da completa pobreza a mais monumental riqueza, que mesmo assim, não foi suficiente para contentá-lo, pois Barnum sempre queria mais e é sobre sua personalidade e vida dentro do filme que focaremos a analise. Importante dizer que por ser um musical a análise vai ser um pouco diferente, ela será feita a partir das principais musicas do filme, seria minha primeira analise com base em  músicas, por isso então vamos lá.

PS: Peço licença poética na escrita.

1° parte  - Um milhão de sonhos - O jovem sonhador

A primeira parte do filme mostra a infância pobre de Barnum que se apaixona pela filha do patrão de seu pai, Charity. A garota é enviada para um internato enquanto o garoto tenta sobreviver nas ruas, após morte do seu pai. Com a passagem do tempo, Barnum consegue um emprego e busca Charity a contragosto de seu pai que disse que os dois teriam uma vida miserável. Sendo que termina com Charity grávida enquanto moram em Nova York.

Na música dessa parte A million dreams, vemos o garoto sonhador que ele era, alguém que mesmo em meios as dificuldades, "dava um jeito", dá-se a impressão que as palavras de seu sogro não seriam suficientes para atingi-lo e como um adolescente, o mundo não poderia pará-lo.

"Fecho meus olhos e eu posso ver, 
O mundo que está esperando por mim, Que eu chamo de meu. 
(...)
Eu não me importo, não me importo, então me chame de louco! Podemos viver em um mundo que criamos. 
(...) 
Porque todas as noites eu deito na cama;
As cores mais brilhantes enchem minha cabeça
Um milhão de sonhos estão me mantendo acordado
Eu penso sobre o que o mundo poderia ser
A visão daquela que vejo
Um milhão de sonhos é tudo que é preciso
Um milhão de sonhos para o mundo que vamos construir.

2° parte - Come alive - Quando você é mais do que poderia ser


Na segunda parte vemos Barnum perder seu emprego, sem alternativa, ele tem a ideia de criar um museu de curiosidades com bonecos de cera. Como isso não dá certo, ele chega perto de falir, até que suas filhas lhe dão a ideia de colocar atrações vivas como unicórnios e sereias. Barnum tem um insight e resolve "recrutar" pessoas excêntricas pare seu show, começando pelo anão que era escondido pela sua mãe da sociedade, passando pela mulher barbada e os trapezistas que eram excluídos dos shows por serem negros.  

A musica que representa essa parte é Come alive que descreve em seu inicio um pouco de como Barnum (mais a frente fará sentido) e muitos deles se sentem, andando de cabeça baixa, se escondendo do mundo, como um morto caminhando. O circo se torna a chance da virada, de mostrarem ao mundo seu valor, de mudarem o interruptor, de serem mais do que a sociedade diz que são e essa musica demonstra essa passagem, da falência a fortuna, do anonimato aos holofotes.



"Você tropeça nos seus dias
Tinha a cabeça baixa
Seus céus são uma sombra de cinza
Como um zumbi em um labirinto
Você está dormindo por dentro
(...)
Porque você é apenas um homem morto caminhando
Pense nessa sua única opção
Você pode virar o interruptor e alegrar seu dia mais sombrio
O sol está acordado e a cor está cegando
Pegue o mundo e redefina-o
Deixe para trás sua mente estreita
Você nunca será o mesmo
(...)
E o mundo se torna uma fantasia
E você é mais do que você poderia ser
Porque você está sonhando com os olhos bem abertos"




3° parte - Never enough - Nunca é o suficiente



No terceiro ato, vemos que Barnum alcançou o auge do sucesso, porém, não conseguiu  o respeito da elite de Nova York, a mesma a qual o pai de Charity pertencia. O principal crítico de arte escarnecia de seu show, enquanto sua filha era menosprezada por suas colegas do balé. O showman então convence o jovem rico  e infeliz Carlyle, grande diretor respeitado pela critica porém frustrado com a vida, a  ser seu sócio no circo.  



Seu novo sócio consegue levar o grupo do circo até a presença da rainha da Inglaterra, e lá Barnum conhece Jenny Lind a maior cantora da Europa e oferece a ela a chance de cantar em Nova York. Lind aceita, o concerto acontece e é um sucesso, o critico mais ferrenho se rende a voz da cantora. O pai de Charity o parabeniza, porém, Barnum se irrita durante a conversa e na discussão seu sogro joga-lhe na cara que por mais dinheiro que tenha ele, assim como seu pai era, sempre será de "uma classe mais baixa", Barnum o expulsa com seu ego ferido mais uma vez.

Nessa parte vemos uma reviravolta na personalidade do protagonista. Ele começa a desprezar  o circo e  todos aqueles que estavam ao seu lado e arrisca tudo que possui numa turnê pelos Estados Unidos com Jenny. Ai vem a pergunta, Barnum alcançou o sucesso, se tornou um dos homens mais ricos do mundo, fez pessoas excluídas terem um lar, encontrou a rainha da Inglaterra e foi elogiado pela mesma, tem filhas e uma mulher que o ama, então o que falta para ele? 


"Todo o brilho de mil holofotes
Todas as estrelas que roubamos do céu noturno
Nunca será o suficiente, nunca será o suficiente
Torres de ouro ainda são muito pequenas
Essas mãos podem segurar o mundo, mas talvez
Nunca seja o suficiente, nunca seja o suficiente para mim" 


Barnum  - análise de um "rei" ferido


Barnum e seu pai eram extremamente pobres, ele via, dia após dia, seu pai sendo humilhado pelo pai de Charity ( garota e mais tarde, sua esposa). O tempo todo era jogado em sua face que ele não estava a altura dela e do lugar que ela pertencia.

Em a million dreams, se dá a impressão que o que ele vivia não atrapalhava seus sonhos, porém, quando ele percebe que, mesmo com sua fortuna, não seria aceito pela elite, surge novamente as feridas que ficaram escondidas na infância e que o circo deu a impressão que tivessem sido curadas. Volta o fantasma do menino que nunca foi aceito, que viveu na miséria, que nunca foi bom o bastante.  Talvez ele nunca quisesse impressionar as pessoas, mas provar para o pai de Charity e para ele mesmo, que ele era digno, assim como suas filhas que poderiam ser consideradas menos por causa dele.



Numa perspectiva Junguiana (Psicologia analítica desenvolvida por Carl Gustav Jung), podíamos associar Barnum ao mito da lenda do Graal,  nela o Rei pescador sofre uma ferida durante a adolescência que nunca cicatriza e, por isso, se vê incapaz de aproveitar toda a alegria e fortuna que possui, levando a seca e devastação por todo reino.  Assim como diz a música never enough, talvez nem torres de ouro, nem o mundo em suas mãos, poderiam curar as feridas do "rei do show", assim como o rei pescador era incapaz de tomar graal (prazer máximo) e curar suas feridas.

Tudo isso leva Barnum  a uma jornada e descobertas  que muitos de nós passamos, algo que será visto no próximo post...

Renan Souza de Oliveira 

CRP 06/151946

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Referencias

JOHNSON, Robert A. He: a chave do entendimento da psicologia masculina. In: He: a chave do entendimento da psicologia masculina. 1987.



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