Sasuke Uchiha - Quando o ódio enfrenta o amor
Sem dúvida, quando se fala do anime Naruto, um dos personagens que mais levanta perguntas é o jovem Sasuke Uchiha, e é sobre o mundo interno sombrio desse personagem que iremos discutir nesse texto.
Sasuke
ainda criança, viu seu irmão Itachi matar seus pais junto com todo seu clã, o
deixando como único sobrevivente. Desde esse momento, o garoto estabeleceu como
único objetivo de vida, a vingança. Ainda quando criança, Sasuke constrói um forte
vinculo com o time 7 (de ninjas) com Naruto, Sakura e seu mestre Kakashi.
Porém, ao final desse trecho da história, ele abandona seus amigos e a vila em
busca de poder, para, assim, se vingar do seu irmão.
Essa
vingança tão esperada por Sasuke acontece, e na vitória sobre seu irmão, vem a
grande verdade. Itachi matou seu clã para impedir uma guerra civil, aceitando
ser renegado e excluído por um bem maior. Ai entra o ponto de virada da
história. Sasuke ao invés de voltar à vila que nem seu irmão queria, faz o
oposto, a querendo destruir, se afundando totalmente no ódio, deixando o público sem entender o
porquê disso.
Uma
psicanalista famosa chamada Melanie Klein (SEGAL,1975) acreditava que todos nós possuímos um
mundo interno tomado por objetos que constituem quem somos e a forma com que
nos relacionamos com os outros e o mundo em si. Esses objetos, que começam a
serem construídos nas primeiras relações que temos com as imagens parentais,
seriam como se pessoas, fantasias, estivessem dentro de nós e que nos relacionamos com eles assim como com as pessoas do mundo de fora. Em que enxergamos e lidamos
com o mundo a nossa volta, com base nessas “figuras e fantasias interiores”.
Sobre
o Sasuke, ele viu todos que conhecia sendo mortos, ficando como única
referencia viva seu irmão. O mundo interno de Sasuke foi contaminado pelo ódio
ao itachi, seja o real, seja a figura que tinha dentro de si. E esse ódio foi projetado para o mundo, e
mesmo com a morte de Itachi, ele continuou lá, como um câncer que contaminava
tudo que se relacionava com o Sasuke. Seus objetos internos passaram a ser tão
ruins e perseguidores que o Uchiha perdeu a capacidade de ver bondade ou
esperança no mundo.
Para Klein (SEGAL,1975), todo ser humano alterna entre duas posições, a primeira a posição esquizo-paranoide, onde os objetos são separados completamente entre bons e maus, entre aqueles que nos gratificam e aqueles que nos perseguem. A segunda é a posição depressiva, onde se enxerga as coisas de forma integrada, o objeto bom e o mau fazem parta da mesma pessoa, onde essa divisão não existe, podendo Sasuke ser um bom exemplo.
Ao descobrir que seu irmão na verdade fez o que fez para salvar a aldeia da folha, Sasuke foi incapaz de lidar com a culpa de tê-lo matado, pois descobriu que tanto o Itachi, assassino, cruel que ele perseguiu incessantemente (o objeto mau) e o Itachi bondoso, gentil, que o amava acima de tudo (objeto bom), eram a mesma pessoa.
Ao voltar seu ódio contra a vila,
talvez estivesse projetando o ódio que sentia por si mesmo por matar seu irmão
e não ter salvo seu clã, lidando com a culpa da mesma forma que sempre fez, a
partir da destruição. Seu mundo interno ficou tão contaminado que ele se tornou
incapaz de aceitar e perceber gestos de amor como os de Sakura e Naruto para
com ele. Ambos eram a prova de que o mundo somente de ódio, raiva e rancor que
Sasuke enxergava, não existia mais e que era uma distorção de sua própria mente
incapaz de ver bondade novamente, e que por isso eles eram as únicas barreiras entre
Sasuke e sua completa solidão e trevas.
Felizmente, mesmo Sasuke
afundando nas trevas, Naruto e Sakura não desistiram dele e, após uma batalha
intensa no vale do fim, Sasuke finalmente percebe, que no mundo assim como há maldade
e dor, também há beleza, amor e bondade, como amizade que tanto a equipe 7
mostrou a ele. Finalmente, a personalidade de Sasuke se integra, assim como sua
visão sobre a vida, assumindo, assim, a
culpa e o luto pela morte de seu irmão, e também seus erros.
Sasuke, ao final, resolve viajar
o mundo, vê-lo com seus novos olhos, buscando nessa viagem, a tão sonhada reparação
pelo que fez, não mais negando, mas enfrentando a realidade como ela é.
Ressalto que tirei licença poética para essa construção e que os conceitos apresentados aqui, como relações objetais, fantasia e reparação, são bem mais complexos que isso.
Psicólogo Renan Souza - CRP 06/151946
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Referências:
Segal, H. Introdução à obra de
Melanie Klein. Rio de janeiro: imago, 1975
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