Melancolia - uma aula sobre depressão - parte 2

Para o post dessa semana,  a continuação da resenha do filme Melancolia do diretor Lars Von Trier, que consegue, a partir da vida de sua protagonista, retratar de forma, praticamente fiel, a depressão. 

2° parte - Claire

A segunda parte do filme começa logo após o final da festa de casamento, quando o noivo de Justine desiste do relacionamento deles. A protagonista então vai morar na casa de sua irmã Claire, que mora com o marido (homem da ciência) e seu filho.

Nessa parte do filme, vemos Justine cada vez mais se deteriorando,  entrando no que podemos dizer que é um quadro depressivo grave. Não conseguindo levantar da cama, chorando muito e não conseguindo  fazer suas atividades.  Em uma das cenas, Claire a leva, obrigada, para tomar banho. 

Entretanto, surge uma reviravolta inesperada no filme:

o Melancolia aparece!

Acabou-se descobrindo que um planeta chamado Melancolia iria colidir com a Terra, e que todos ali, possuem pouco tempo de vida. Ao descobrir isso o humor deprimido de Justine melhora, ela volta ser mais ativa. Em contrapartida, vemos os outros personagens entrando em desespero, o marido de Claire se suicida, enquanto esta não suporta a ideia de que não haverá um futuro para seu filho.

Na ultima cena, quando o planeta colide com a Terra, Justine e Claire montam uma caverna mágica de madeira, para fazer com que o menino se sentisse protegido. Na conclusão vemos mais uma vez a depressão simbolizada, pois enquanto o normal chora perante a morte, no caso a Claire, o Depressivo (Justine) a aceita, pois será o fim da vida e da dor que ele não mais aguentara.

Retomando o que foi escrito sobre depressão na primeira parte,  segundo muitos manuais e livros de Psicopatologia como o DSM - V e Dalgalarrondo (2008),  ela tem como os dois principais sintomas a perda de interesse ou prazer e o humor deprimido, que normalmente persistem todos os dias por um longo período de tempo. Além disso, retomando um texto de Freud (1917) a pessoa em melancolia (depressão) também entra em um processo de autoflagelação subjetiva, como se uma parte de sua mente, atacasse seu próprio eu, o acusando, o ferindo.

Nessa 2° parte, vemos esse quadro depressivo, claramente, alcançar seu auge, quando Justine, sem mais emprego ou casamento, se entrega totalmente ao desanimo e a falta de sentido que vê na vida, não conseguindo ter nem mais capacidade de se cuidar.  Tarefa essa que é passada à sua irmã Claire, que sente cansaço e dificuldade de cuidar de Justine nessa situação. Vemos isso na já citada cena que Claire coloca sua irmã na banheira.

Porém,  vemos uma mudança súbita de comportamento da protagonista ao saber que o planeta vai destruir a Terra. Pode-se hipotetizar que Justine viu no Melancolia uma breve esperança de que toda sua dor, amargura e desespero chegaria ao fim. Enquanto sua irmã e seu cunhado, viram na chegada do planeta, o abreviamento de tudo que eles e seu filho ainda teriam para viver.

Pode-se concluir que essa obra consegue descrever perfeitamente, a partir de Justine, o processo de alguém em depressão. A dor e o desanimo que sente em momentos que para muitos são de alegria e felicidade (casamento); a perda total de forças (segunda parte do filme), ou até mesmo a ideação da morte como fim do desespero (chegada do Melancolia), são fielmente retratados, demonstrando, de forma densa e sensível, o quão doloroso é esse processo, tanto para o depressivo quanto para sua familia, que tem que estar ao lado compreendendo a situação e dando forças tal como Claire fez a maior parte do filme com sua irmã.


Psicólogo Renan Souza de Oliveira CRP 06/151946

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Referencias do texto:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed. Estudo Empírico, 2008.

Freud, S. (1917/1996). Luto e melancolia. Obras completas, ESB, v. XV. Rio de Janeiro: Imago