Um estranho no ninho - Não há liberdade que sobreviva ao manicômio

 


 

O filme um Estranho no Ninho traz a história de Patrick McMurphy, um prisioneiro que aceita ser transferido para um Hospital Psiquiátrico, passando-se por “doente mental”, para fugir do trabalho na detenção em que estava preso.


 Ao longo do enredo, vê-se a construção de laços entre o protagonista e os outros pacientes e também os conflitos que surgem entre eles e a Instituição que é personificada na enfermeira Ratched. É a partir dessas relações que se pode ver o funcionamento de um hospital psiquiátrico e o quanto é difícil modificar nele o que já está Instituído.

 

Análise

 




No Hospital, McMurphy se depara com uma estrutura enrijecida, onde os pacientes não possuem nenhuma voz e são obrigados a seguirem a mesma rotina todos os dias. Para ele que sempre se considerou um espirito livre, aquilo que via não fazia sentido, inclusive há uma cena que ele questiona o fato daqueles homens estarem ali naquele hospital, sendo que não há diferença nítida entre eles e as pessoas que vivem “lá fora” (sic) todos os dias. Essa sensação de estranheza levou McMurphy a uma direção, mesmo que não intencional: querer transformar o Hospital e quem sabe incentivar o direito á liberdade daqueles lá estavam.

 

Simbolicamente, pode-se ver McMurphy como um reformador e seus movimentos como uma tentativa de uma minirreforma psiquiátrica, nesse caso, institucional. Ele passou a se aproximar dos pacientes, construir vínculos com eles, enxergá-los como pessoas e não apenas como doentes.

 


Percebe-se isso na cena que ele ensina o Chefe, que ninguém tinha interesse por ser surdo, a jogar basquete. Também a cena que ele leva o grupo para navegar de barco, para espaços fora do hospital, causando estranheza e ao mesmo tempo mostrando que são humanos e cidadãos como os demais, quebrando a ideia de periculosidade que muito se tinha na época, e que em alguns lugares se mantém até hoje.

 

Uma cena que mostra o retorno à vida dos pacientes, de objetos passivos a pessoas com desejos, é a cena em que Cheswick na reunião com a enfermeira fala que quer assistir a final do campeonato de baseball e todos concordam com ele, entendendo que possuem direitos e devem ser ouvidos.



Infelizmente, esse espirito revolucionário de McMurphy, surgiu no lugar errado e na época errada. Nos Estados Unidos o serviço público de saúde mental, segundo Robbins (1991 APUD DESVIAT, 1998), sempre atuava, primeiramente, no sentido de proteger a sociedade dos perigos e incômodos que podem ser causados pelos loucos, deixando em segundo plano a cura ou proteção das pessoas afetadas.

 


Perto do final do filme, vemos mais um embate simbólico entre McMurphy e o Hospital, entre o instituinte e instituído. Ele realiza uma festa clandestina com os pacientes, deturbando o espaço físico do Hospital. O jovem Billie dorme com uma das garotas e a enfermeira Ratched o confronta em uma discussão que, mais tarde, leva o garoto ao suicídio. McMurphy após o ocorrido é lobotomizado, levando a triste ideia e mensagem que, talvez ele estivesse mais seguro e feliz trabalhando na prisão, do que preso as correntes e muros físicos e simbólicos do manicômio.

 




Na última cena, como um movimento de esperança, o Chefe que se fingia de surdo e mudo, segue com o plano de McMurphy, arrancando o bebedouro do chão, jogando contra a janela, fugindo para longe do Manicômio, para a liberdade. Apesar do triste final do protagonista, seu engajamento levou a libertação de uma pessoa, que voou para longe das correntes e da violência da prisão que é o manicômio, o hospital psiquiátrico tradicional, sendo esse voo, talvez, o principal objetivo daqueles que acreditam na reforma psiquiátrica tal como ela avançou e seu deu em diferentes lugares como na Europa e também no Brasil.



 

DESVIAT,M. A reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.1999

 

 

Psicólogo Renan Souza

CRP 06/151946

Instagram : @psirenansouza

Atendimento online/presencial

Convênios pela Psicologia viva


Comentários

Postagens mais visitadas